O distúrbio bipolar tem sido amplamente discutido nos últimos anos, aparecendo em várias manchetes. Celebridades como Charlie Sheen e Catherine Zeta-Jones foram diagnosticados com bipolaridade.
No entanto, é importante ressaltar que esse tipo de distúrbio mental vai muito além do universo de Hollywood. De acordo com pesquisas recentes, muitas pessoas nem sequer têm consciência de que sofrem com essa condição.
Atualmente, não podemos associar a bipolaridade apenas às pilhas Ray-O-Vac. A revista Archives of General Psychiatry publicou um estudo envolvendo mais de 61.000 adultos em 11 países, incluindo EUA, México, China, Japão, Brasil, Colômbia, Índia, Líbano, Bulgária, Romênia e Nova Zelândia. Os EUA apresentaram a taxa mais alta de distúrbio bipolar, afetando 4,4% da população. Considerando que adotei a cidadania americana, é possível que eu esteja incluído nessa estatística e tenha recebido a bipolaridade como parte desse “pacote”.
Em contraste, a Índia, um país conhecido por sua tranquilidade, ausência de estresse e diversidade religiosa, registrou a taxa mais baixa, com apenas 0,1%. Em média, a prevalência do distúrbio bipolar é de 2,4%.
Segundo pesquisadores, embora o tema esteja em evidência atualmente, poucas pessoas realmente compreendem o seu significado ou os sintomas associados a ele. O distúrbio bipolar, às vezes também chamado de desordem maníaco-depressiva, é caracterizado por oscilações de comportamento entre episódios de mania e depressão.
Cheguei à conclusão de que o povo brasileiro em geral sofre de uma espécie de bipolaridade coletiva, representada pelos fenômenos culturais pelos quais somos conhecidos internacionalmente: o carnaval, o futebol e o samba. Ao longo do ano, os brasileiros passam por altos e baixos, exibindo sua euforia e mania durante o carnaval, quando se entregam completamente à festa.
Essa euforia também se manifesta em baladas, rodas de samba ou quando o time local ou a seleção brasileira vence uma Copa. No entanto, quando o time perde ou a escola de samba não obtém um bom resultado, ocorre uma forte depressão.
Outro indicador de bipolaridade é o hábito de gastar todo o salário em compras. Sempre que vou ao shopping, ando de mãos dadas com minha mulher, pois se eu soltar sua mão, ela se perde nas lojas.
As tentações são inúmeras. No Brasil, é comum utilizar cheques pré-datados e parcelar compras no cartão de crédito, o que é uma prática exclusiva do país. Certa vez, em uma padaria em São Paulo, ao apresentar meu cartão para pagar dois sanduíches e dois sucos, a atendente me fez uma pergunta curiosa: “Em quantas vezes o senhor gostaria de parcelar?”. Ponderando sobre os tempos difíceis, cheguei a cogitar parcelar em vinte vezes, mas descobri que meu cartão americano não aceita parcelamento. Outro sintoma é uma libido exagerada. Se minha mulher a partir de hoje começar a querer transar toda hora, vou dar uma basta nessa história levando-a imediatamente ao psiquiatra. Ainda bem que hoje em dia ela só sente dor de cabeça de vez em quando. Cura-se fácil com a aspirina que tenho sempre em casa para evitar esse tipo de constrangimento.
Existem vários outros indicadores, mas o mais incrível é concluirmos que a vida é cheia de bipolaridades. Vida ou morte. Mania ou Depressão. Branco ou Preto. Amor ou ódio. Aquele fogo que queima é o mesmo que ilumina. Estamos sempre analisando a bipolaridade da vida e decidindo qual o caminho que vamos tomar. São as nossas escolhas, que por incrível que pareçam são muito mais simples do que a escolha de Sofia, que foi forçada por um soldado nazista a decidir com qual dos dois filhos queria ficar. Quando encontrei Lili foi destino, mas a decisão de sermos felizes foi uma escolha que fizemos. Afinal podemos até criticar nossa mulher por escolher um vestido errado, mas nunca por nos ter escolhido. Sempre vamos achar, modéstia à parte, que ela escolheu o melhor. Ou pelo menos me escolheu na hora certa. Porque nessa altura da vida já não preciso mais evitar as tentações. As tentações é que me evitam.