O Gerundismo e a Arte da Comunicação Precisa
Você já se deparou com aquela sensação desconcertante ao ouvir alguém se expressar com um excesso de gerúndio (gerundismo)? A prática tem se tornado uma verdadeira epidemia linguística, transformando diálogos simples em verdadeiras obras de desconstruídas. Não herdamos esse hábito dos portugueses; é uma peculiaridade linguística que, quando mal empregada, torna-se um repelente idiomático.
A situação se agrava quando o gerúndio (gerundismo) é anticipado pelos verbos “ir” e “estar”. Imagine-se dentro de um shopping, buscando orientação de um segurança, e recebendo uma resposta como: “O senhor vai estar dobrando a esquerda depois daquela loja da esquina. Depois o senhor vai estar descendo as escadas rolantes e aí o senhor vai estar virando a direita na primeira porta no final da escada.”
Esse vício de linguagem tem um nome: verborreia. Pior ainda é quando a atendente da loja, ao informar que o sapato desejado não está disponível, diz: “Este eu não vou ter!”. Fica a dúvida se ela nunca terá, nunca teve ou como ajudará a adquirir o produto desejado.
O gerúndio é válido quando transmite a ideia de uma ação simultânea, como em “Vou estar viajando no dia do jogo do Brasil” ou para expressar ações duradouras, como “Amanhã vou estar viajando o dia todo”. No entanto, seu uso exagerado gera ambiguidade, como quando alguém diz “vou estar passando o seu recado”, deixando o destinatário na incerteza.
Segundo o linguista Sírio Possenti, adotar o gerúndio em construções que não o exigem é uma tentativa de simular precisão em ações futuras. Os portugueses, por sua vez, não correm esse risco, já que o gerúndio não é uma característica marcante de sua língua. Para eles, não é “estou falando”, mas sim “estou a falar”.